
Minha pátria é onde está meu chão.
O chão onde enterraram o meu umbigo
O chão que tornou pó os ossos dos meus avós
Meu velho chão amigo.
Minha pátria é a gleba
Onde plantei o meu primeiro pé de milho
Onde sou filho
Onde sou pai, sujeito e criatura onde pratico a minha agricultura.
Nada sei do tamanho do mundo.
O mundo que conheço e’ a minha terra
Palco de minha dor, triunfo ou sofrimento
Território de meu sentimento.
A vida é sua campina
Sua serra
Sua penedia.
Este rio que corre do começo de mim
E certamente vai molhar meu fim.
Escorrer como grande lágrima sobre minha noite fria
E banhar de amor o meu último dia.
O mundo é muito vasto – dizem os livros.
Eu não acho:
Meu mundo cabe inteiro, como se mínimo fosse
No meu prato de feijão de corda.
No meu tacho de doce
Nos olhos de meu gato
No sono de meu cão
Nas rudes cercas de minha solidão.
Minha pátria são as ruas de minha cidade
Suas praças simples cheias de saudade
Seus moleques pregoeiros
E todos os meninos
As torres da matriz, o velho sino
Nos dizendo de todos os momentos
Da sorte
Das rezas
Da manhã feliz dos casamentos.
Não me importa a grandeza do mundo.
Meu universo é o lugar que eu fiz
Continuando os que o fizeram antes.
A terra que eu amo e que me quer
Minha casa, meu ofício, minha mulher.
O sol e os dias se passam lá fora
Sem o nosso brilho e a nossa ternura.
Mas o futuro que eu construí agora
Está aqui nesta noite pura
Aqui na devoção
Perto de mim e de meu coração.
Porque
Todo o princípio
Do que entendo de fundamental
Acontece no meu município.
Por isso é que eu me orgulho
De ser um homem de meu chão natal.
Um cidadão municipal.

Betanista, de Nova Russas – Ceará.
