
É certo que, no céu, não se terá saudade
Da vida aqui vivida, esta confusa vida
Entre prazer e dor e entre também bondade
E maldade, a maldade que a torna até suicida.
É certo que, no céu, não se terá saudade…
Mas eu não tenho pressa alguma pela ida
A esse vasto lugar de só felicidade.
Pois, que se me retarde ao máximo a partida!
E se saiba que eu muito sofro neste mundo,
Onde por engrenagens sempre estou passando
E onde oscilo, também, da superfície ao fundo.
Porém, eu a viver andei-me acostumando,
De tal sorte que às vezes — ai de mim! — confundo
Com a do céu a vida que eu estou levando.

FRANCISCO JOSÉ RODRIGUES